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Primeira entrevista de Hozier, em 2013, para o The Prowlster

Matéria publicada em 10 de Outubro de 2013

The Prowlster


A anatomia de uma sensação viral é algo curioso. Principalmente porque raramente pode ser construída deliberadamente e exige o alinhamento das estrelas, o apoio de grandes nomes e um conteúdo que, por qualquer motivo, ressoe com as massas. Na semana passada, o natural de Wicklow e ex-aluno da Trinity Orchestra, Andrew Hozier-Byrne, se viu no centro de uma tempestade. Seu vídeo de Take Me To Church acumulou cerca de 35.000 visualizações dentro de vinte e quatro horas após ser postado. Em dois dias, esse número subiu para 80.000 e agora está quase em 250.000. Stephen Fry, Perez Hilton, Billboard e Huffington Post estão entre os que compartilharam o vídeo. Um feito e tanto para um artista independente irlandês, e acreditamos que você vai concordar.


Uma resposta comovente à legislação anti-gay recentemente sancionada na Rússia, o vídeo de Take Me To Church possui uma narrativa assustadora, mas é reforçada pelos poderosos vocais de Hozier e pelo refrão com o piano. Uma verdadeira música viciante, é o tipo de canção que se acomoda no seu cérebro e fica lá, fazendo com que você a cante inconscientemente em público. Extraída de seu EP de estreia com o mesmo nome, o sucesso do single gerou uma onda de interesse de gravadoras internacionais e seu show no Hard Working Class Heroes contou com a presença de quinze cabeças de A&R (Artistas & Repertório). Parece que tudo está fluindo a favor de Hozier.


Conversamos com ele esta semana para falar sobre o vídeo, seu EP de estreia e o que ele tem preparado para o futuro.


Conte-nos um pouco sobre sua história e sobre como você chegou aqui.

No meu primeiro ano de faculdade, na Trinity, eu estudava música e tive a oportunidade de gravar algumas demos para a Universal da Irlanda. E as demos eram com o Niall Breslin, o Bressie. Ele estava produzindo elas. Claro que não foi uma boa combinação. As demos não eram boas. Mas eu já tinha perdido algumas provas e senti que era algo que eu queria continuar fazendo.


Eu senti que se ficasse quatro anos na Trinity College fazendo composição musical, eu não chegaria nem perto de escrever e performar música contemporânea, então decidi largar. Eu queria postergar por um ano, mas você não pode fazer isso. Eles disseram, "Você pode ficar e tentar passar mesmo tendo perdido as provas ou você pode abandonar." Então eu abandonei. Eu mantive uma comunidade lá, cantando com a orquestra e com as bandas de lá, meio que vivendo como um estudante fantasma e escrevendo música ao mesmo tempo.


E o que sua família achou da sua decisão de abandonar a faculdade?

Foi uma conversa difícil. Para ser justo, eles me apoiaram, mas também eram relutantes, tipo, "Não faça bobagem. Não seja um idiota." Houve momentos difíceis em que eu diria que o apoio deles foi bem rígido, mas eles continuaram firme.


E como você acabou assinando contrato com eles?

Depois de um tempo, fiz uma ou duas demos com a Rubyworks, que possibilitou esse EP. E eu não tinha assinado oficialmente o contrato com eles até semana passada.


Semana passada?

Aham! Então, o EP e tal, continuei gravando em casa, continuei trabalhando nele e escrevendo. Fiz uma demo com eles – com um cara chamado Joe Chester – e foi aí que o relacionamento com a gravadora começou. Continuei mandando material para eles até que eventualmente começamos a gravar algo para lançar. Isso foi no Natal do ano passado e eu estava quase – eu adorava trabalhar com o cara com quem eu estava trabalhando, mas sentia que não conseguia me aproximar da música. Não sentia que estava sendo honesto e estava faltando algo – tudo se perde na tradução com um produtor.


Então comecei a trabalhar em casa. Gravei esse EP em casa, produzi ele e antes de irmos mais longe com o que estávamos fazendo, eu fisse, "Ei, podem dar uma olhada nisso?" E eles gostaram e me apoiaram. Então fui até o estúdio com o Rob Kirwan, ele fez a mixagem, e então na semana passada as coisas começaram a decolar. Mas a gravadora, mesmo antes de eu assinar com eles, tem sido muito solidária.


Então, você lançou o EP no Bandcamp gratuitamente.

Sim, nós lançamos. Estamos começando do zero. Sou totalmente desconhecido de muitas formas e pensei que seria um investimento, apenas deixar que as pessoas vejam se gostam. O plano original era, na verdade, deixar o EP gratuito até o lançamento e depois cobrar por ele. Agora, no iTunes, ele está disponível por €1.50 ou algo assim, mas ele continua gratuito no Bandcamp e a resposta foi melhor do que se tivéssemos cobrado €1.50 das pessoas, porque elas começaram a dar tipo €5 nele.


Ah, então dá para doar uma quantidade?

Sim. Você escolhe quanto quer pagar, podendo ser 0 também. Está tudo bem. Mas depois do vídeo, as pessoas estão dando mais do que elas estariam dando se estivéssemos cobrando, então estamos felizes. E foi muito melhor. Tipo, muitos estudantes não conseguem nem pagar €1.50 porque eles não tem uma conta bancária com €1.50 para gastar.


Então, fale um pouco sobre o vídeo de Take Me To Church. Você estava envolvido no planejamento dele?

Brendan Canty e Conal Thompson são os diretores que fizeram o clipe pela produtora de vídeos Feel Good Lost. Eles me mandaram um roteiro através da gravadora, eu procurei algumas coisas deles e achei incrível. Só que o roteiro era bem diferente, tinha uma narrativa e história bem diferente. Mas tinha alguns efeitos visuais e algumas imagens poderosas, então sentamos e conversamos sobre, e eu sugeri que trouxéssemos elementos do que estava acontecendo na Rússia no momento e também que trouxéssemos temas de sexualidade, porque a música é sobre sexualidade.


Então conversamos algumas vezes e discutimos a narrativa. E então chegamos num resultado muito, muito bom. Eu estava acompanhando o que estava acontecendo na Rússia através do allout.org. Parecia ser um bom momento, era relevante e seria uma oportunidade de produzir um vídeo poderoso para fazer as pessoas pensarem sobre o assunto.


E quando ele foi gravado?

Algumas semanas atrás. Ele foi filmado em Cork nos dias 9, 10 e 11 de Setembro. Ele foi editado bem rápido e aí lançamos.


E aí ele explodiu...?

É, exatamente.


Então, como é estar no meio disso? Deve ser louco ter pessoas como o Stephen Fry e a Perez Hilton compartilhando o vídeo.

É maluco. É incrível. A coisa mais estranha é ler os comentários e se acostumar a ver as pessoas falando sobre você como se você não estivesse ali. Você está em casa, entra lá e começa a ver as pessoas discutirem sobre o que você quis dizer ou o que o vídeo quis dizer. As vezes chegam mensagens no Facebook ou até mim dizendo coisas muito legais e eu fico em choque. Isso é incrível. Ou, em alguns casos, eles contam a própria história e como isso os afeta tanto. Então é fantástico, mas demora um pouco para se acostumar.


Deve ser surreal. Minha mãe ouviu falar dele, e se minha mãe ouviu sobre, então...

Conseguimos o selo de aprovação!


Exatamente. Então, eu acredito que gravadoras estrangeiras já tenham se interessado.

É. Tipo, do ponto de vista comercial, a gravadora é ótima. No show do The Button Factory que fizemos semana passada para o Hard Working Class Heroes, tinha em torno de quinze pessoas sêniores de A&R (Artistas e Repertório) de gravadoras de todo o mundo lá. Felizmente eu não sabia disso. Então houve interesse e isso é fantástico. Novamente, é algo bem surreal, porque fomos do zero ao noventa muito rápido.


E você já tocou no exterior?

Não! Acho que o show mais longe que já fiz foi em Belfast.


E existem planos de ir adiante?

Vamos seguir aos poucos, eu acho, então quem sabe no ano que vem nós possamos testar outras águas com alguns shows pequenos no Reino Unido. Assim como os shows de lançamento do EP que fizemos em alguns locais bem intimistas.


Você tem dois shows marcados no Pepper Cannister.

Sim.


E ambos estão esgotados.

É, dias 7 e 8 de Dezembro.


E você prefere esses locais mais intimistas?

No momento, sim. A questão deles é que são extremamente silenciosos e isso me deixa um pouco nervoso, porque você consegue ouvir seu coração batendo no seu ouvido. Qualquer erro que você cometa, o foco é bem intenso. Mas é legal, porque você consegue conversar com o público de uma forma bem intimista.


E em respeito a influências, quem teve o maior impacto em você?

Nina Simone foi uma enorme influência e Tom Waits teve um grande impacto em mim quando eu era adolescente. Muita música antiga, então artistas como Billie Holiday e Ella Fitzgerald. Basicamente blues, soul e jazz. Eu fui criado ouvindo blues tipo Muddy Waters e John Lee Hooker. E soul tipo Otis Redding. No fim da adolescência, o primeiro álbum solo da Lisa Hannigan teve um grande impacto em mim, até mesmo para me incentivar a escrever quando eu estava começando. Paul Brady, também, é um compositor e cantor fantástico. Já música contemporânea...


Você não acompanha música contemporânea?

Eu tento. Tem muitos artistas pelos quais sou louco e respeito imensamente. Não escuto muito aos charts. Mas tem alguns artistas que acho interessantes, tipo a Lorde.


É interessante você dizer isso, na verdade. Eu estava lendo uma entrevista que a Billboard fez com Niall Muckian da Rubyworks e ela traçou paralelos entre você e a Lorde, no sentido de ambos serem artistas respeitáveis que tiveram sucesso na internet e, posteriormente, atraíram o interesse de gravadoras mainstream.

Bom, enquanto eu estiver sendo comparado com a Lorde.


E aí, o que vem a seguir para você?

Irei para o estúdio na metade de Novembro para a próxima leva de músicas.


E onde você grava? Ainda em casa?

Ainda em casa. Mas eu vou chegar com as músicas já arranjadas e talvez já tenha uma boa quantidade de gravações. É a primeira vez que eu fico feliz com algo, realmente feliz. Então estarei no estúdio novamente com o Rob e vamos tentar fazer tudo soar bem. Leva tempo.


E você tem uma banda por trás?

Tenho, sim. Mas quando estou gravando, eu mesmo toco tudo. Menos a bateria.


E onde você está morando?

Eu estava ficando em Dublin no verão, mas não posso mais trabalhar na cidade por conta das reclamações da última vez.


É mesmo?

Meu Deus. Recebi avisos já na primeira semana em que estava num lugar. Então estou de volta em Wicklow no momento e tenho um estúdio lá que é silencioso. É isolado, então posso fazer o barulho que eu quiser.



 

PS: a matéria não está mais disponível online no site oficial do The Prowlster (anteriormente publicada no link: https://www.hugedomains.com/domain_profile.cfm?d=theprowlster.com), mas foi postada pelo hozierarchive.tumblr.com. Tradução: Portal Hozier BR.

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