Meu ano na estrada com o Hozier: 'Ele escalou a montanha, pouco a pouco, e eu estava junto na jornada'
- Portal Hozier Brasil
- 10 de jan.
- 7 min de leitura
Viajar pelo mundo como parte da equipe da estrela de 'Too Sweet' na turnê de 2024 foi uma experiência única para a fotógrafa Ruth Medjber
Matéria publicada em 27 de Dezembro de 2024
Por Ruth Medjber, Irish Independent

Estou procurando no Google: "Como fazer um clipe." É abril e estou em Nashville, Tennessee, como parte da longa turnê do Hozier esse ano. Sua equipe acabou de me pedir para gravar um vídeo promocional de behind the scenes da sua música 'Too Sweet'.
Eu me classifico como fotógrafa e relutante videógrafa. Eu só gravo vídeos quando as pessoas expressamente me pedem, então aqui vou eu. Faço uma chamada no Zoom com um amigo editor de vídeo para saber quais configurações de câmera usar e aperto o "gravar".
Gravo os ensaios, as passagens de som, a energia do camarim e as primeiras apresentações da música nova. Sabemos que tem potencial de ser algo grande, mas duvido que qualquer um de nós saibamos quão grande vai ser.
Nas semanas e meses seguintes, todo Uber que eu pego, toda loja que eu passo, toda sala de aeroporto que eu vou está tocando essa música. Ela estoura em todo lugar e cria uma atmosfera incrível entre a equipe da turnê.
Fazemos uma festa pequena com balões e bolo em um camarim nos EUA o dia que a música alcançou o 1º lugar. Meus amigos da Irlanda me mandam vídeos da RTÉ News falando sobre o sucesso de Hozier. Taxistas de Dublin mudam de "Ah, o cara da música da igreja" para "Nossa, ele é incrível, minhas filhas adoram ele" quando perguntam com quem estou trabalhando.
Parece que estávamos assistindo algo cósmico sendo criado na nossa frente. Hozier tinha escalado a montanha, pouco a pouco, durante tantos anos, e finalmente alcançou o topo sob aplausos calorosos ao redor do mundo.
E lá estava eu, acompanhando a jornada gloriosa de uma vida inteira.

2024 foi o ano mais rápido da minha vida. O primeiro que passei inteiramente "na estrada". O ano em que eu nunca trabalhei tanto. Nunca parei tão pouco. Nunca estive tão exausta, mas ao mesmo tempo foi o ano que visitei mais países, tive as experiências mais fascinantes e vivi momentos incríveis.
Eu estava em turnê como fotógrafa do Hozier quando ele se tornou o primeiro artista irlandês em 34 anos a ter uma música número 1 nos EUA (enquanto também era número 1 na Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, Canadá...a lista continua.)
Foi uma surpresa para todos nós, mas também algo a ser esperado quando você vê de perto o quanto ele e sua equipe trabalharam.
Somos um grupo de turnê enorme. Tem mais ou menos 55 pessoas nessa jornada, incluindo músicos, técnicos, equipe de iluminação e gerenciamento. É um trabalho gigantesco carregar e descarregar o show todos os dias, e foi uma turnê longa. As vezes pode ser um pouco exaustivo e solitário. Estar longe da família e dos amigos pode ser difícil, então a saúde mental é uma grande prioridade para a organização.
Uma equipe feliz irá continuar a turnê por mais tempo, então a gerência faz questão de que estejamos contentes e bem cuidados. Eles frequentemente trazem massagistas, e as vezes cabeleireiros e manicures. As vezes temos caminhões de sorvete ou até brinquedos infláveis — sim, eu vi diversos roadies de meia idade, vestidos de preto, pulando por aí nos estacionamentos dos locais.
Constantemente recebemos a visita de abrigos de cães e podemos passar tempo com filhotes abandonados por um dia.
Uma das aventuras mais divertidas que os organizadores prepararam para nós foi uma viagem para uma base da Nasa, onde ganhamos uma visita privada no local com a astronauta Jasmin Moghbeli. Ela tinha acabado de voltar da Estação Espacial Internacional. Volto para casa e surpreendo meu afilhado pegando sua aeronave de Lego e dizendo: "Vi isso pessoalmente alguns dias atrás."

A primeira parada da turnê é na América do Sul. Como a maioria dos lugares que visitamos, eu desejo que tivéssemos mais tempo para explorar. Temos um dia de folga em Bogotá, a capital da Colômbia, e fugimos para as colinas, literalmente.
Nós pegamos o teleférico até o topo da montanha e, assim que saímos, o céu se abre. Toda a paisagem se transforma em um cinza espesso e opaco. Não consigo ver mais do que 1 metro à minha frente. E então eu ouço. É como se Zeus estivesse dentro dos meus tímpanos e muito bravo. O maior trovão que minha pequena eu irlandesa já ouviu. Ensurdecedor e emocionante ao mesmo tempo. Isso não me enche de confiança para voltar àquela pequena caixa de metal e descer a montanha.
Eu passo a maior parte da turnê na América do Sul usando as mesmas roupas todos os dias, já que a companhia aérea perdeu minha bagagem. Você realmente não é um roadie até dominar a arte de torcer a roupa íntima na banheira de um Hilton.
No Dia de São Patrício nós tocamos no Lollapalooza (não me lembro em qual país — nota do Portal aqui, foi na Argentina! rs) e acabamos bebendo champanhe em uma piscina de um hotel 5 estrelas (não era meu) às 3h da manhã. Permaneço de roupa, porque mesmo estando bastante bêbada, continuo sendo irlandesa.
Sob a Congress Avenue Bridge, em Austin, no Texas, vivem um milhão ou mais morcegos. Eles saem ao entardecer para se alimentar. Pessoas se reúnem em cima da ponte para observá-los voando para dentro e para fora por horas.
Alugamos um pedalinho em forma de cisne e, junto com os caiaques e os barcos turísticos, flutuamos sob a ponte ao pôr do sol, ouvindo o grito agudo de todos os morcegos acima das nossas cabeças. Eles parecem um enxame de mosquitos, voando muito rápido.
Em Junho eu fui para casa em Dublin para uma folga bem rápida e imediatamente fui para o Oeste. Acho difícil ficar parada quando estou em casa. O inseto das turnês me picou forte.
Começo a fotografar um novo projeto para a Peugeot, no qual percorro as paisagens irlandesas fotografando minha amiga e musa Maykay, como uma versão mais espirituosa da pessoa que quero ser. Alguém que está conectada à terra e ao mar e que escuta nada além da própria intuição para guiá-la ao longo da jornada.
É profundamente renovador poder fotografar este projeto na costa oeste da Irlanda, com o Atlântico batendo aos meus pés.
Voo para a Espanha em Julho para me encontrar com meu namorado e minha van de camping (Gloria Estevan) por uma semana. Eles estão em um comboio com nossos amigos, dirigindo por Galícia, parando em praias e em pitorescas cidades à beira-mar.
Eu vou junto o quanto posso, trocando minha cama de ônibus de turnê pela cama da minha van e me delicio com a liberdade de não ter um horário de chamada pela manhã ou uma montanha de edições para fazer antes do amanhecer. Nado, como, bebo. É um verdadeiro paraíso. Assistimos à Inglaterra perder a final da Euro 2024 para a Espanha em um barzinho.
Nós percorremos as ruas e nos juntamos às celebrações religiosas que acontecem por toda parte. Estou constantemente tentando refletir sobre minha vida após a turnê com o Hozier (para amenizar o impacto quando ela acabar) e é aqui, na Espanha, que começo a me convencer da ideia de viver o tempo todo na van de camping.

A temporada dos festivais está a todo vapor quando voltamos para a estrada. Com Hozier ainda no topo dos charts, isso torna tudo muito animado.
Tocamos no Newport Folk Festival, onde assisto com admiração Mavis Staples, Joan Baez, Allison Russell, Nathaniel Rateliff e um grupo de músicos incrivelmente talentosos ensaiarem algumas músicas clássicas em um galpão sujo e depois fazerem uma apresentação incrível que vai ficar comigo por anos.
No outro dia, fazemos um show no mesmo lugar do primeiro Woodstock Festival e depois é hora de ir para Chicago, onde eu derreto no calor.
Estou sempre tentando explorar o máximo que posso quando estou em turnê porque sei que posso nunca mais ter uma oportunidade como essa novamente.
Tento estar presente, tirar mais fotos, começar um diário, mas estou esgotada. Uso todos os cliques da minha câmera no Hozier, então na maior parte do tempo, apenas sento e assisto o mundo ao meu redor.

Em Setembro, Hozier toca quatro noites no Kia Forum em Los Angeles. Sempre que ficamos no mesmo lugar por um período longo como este, dá a chance para nossos parceiros e famílias nos visitarem. É sempre um momento divertido na turnê.
As pessoas estão ansiosas para ver suas famílias e apresentá-las para todo mundo. Também é muito legal dormir na mesma cama por mais de uma noite. Eu não via meu namorado há 10 semanas. Ele viaja até aqui, nós jantamos e eu tenho uma intoxicação alimentar e passo 24 horas colada no chão do banheiro. Que romântico.
Estou em casa para o mês de Outubro e provavelmente minha maior conquista do ano foi ter uma exposição solo. Eu exponho dez retratos da minha viagem pela Irlanda em Junho. Nós tomamos conta do Museu de Fotografia, que é a minha galeria de fotos favorita e um espaço tão crucial para tantos fotógrafos.
Eu costumava sentar na Meeting House Square em frente à galeria quando era adolescente e sonhava em ter minha própria exposição lá um dia. Ter essa oportunidade é um privilégio que vou valorizar para sempre.

O fim da turnê está à vista quando vamos até a Austrália no mês de Novembro. Nós acumulamos o que parece uns 457 voos no espaço de 30 dias. Vi uma abundância de fofura em forma de cangurus, quokkas, aves, morcegos enormes e pássaros de rua gigantes que são carinhosamente chamados de bin chickens ("galinhas de lixeira").
Eu me apaixono pela Nova Zelândia. Nossa passagem rápida por lá poderia ter durado o ano todo e eu estaria feliz.
E como em todos os lugares que amo na turnê, eu esqueço da dor no ciático, das dores de barriga, do cansaço, da solidão e da saudade de casa. E faço uma adição à minha lista enorme de lugares que quero revisitar quando a turnê acabar.
Sei que 2024 provavelmente continuará sendo o melhor ano da minha vida por muito tempo. Ainda estou tentando processar tudo.
Eu não esqueço minha boa sorte facilmente, e permitirei que essas memórias me emocionem até minha velhice.
Matéria original: https://www.independent.ie/irish-news/my-year-on-the-road-with-hozier-he-scaled-the-mountain-bit-by-bit-and-i-was-along-for-the-ride/a1639719896.html
Tradução: Portal Hozier BR
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