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Foto do escritorPortal Hozier Brasil

Hozier desenterra o devocional épico 'Hymn to Virgil': "Eu não achei que valia a pena lançar"

O músico disse anteriormente à Rolling Stone que nunca planejou compartilhar a música que imagina um final alternativo para a jornada de Dante e Virgílio pelo inferno no Inferno de Dante.


Por Larisha Paul, Rolling Stone


Foto por: Sacha Lecca para a Rolling Stone


No Inferno de Dante Alighieri, o autor descreve a difícil jornada de Virgílio e Dante pelo inferno e pelo purgatório enquanto encontram criaturas aterrorizantes e enfrentam condições repugnantes. Eles desenvolvem um grande senso de confiança e cuidado mútuo ao longo do poema. Porém, quando chegam ao paraíso, Virgílio é impedido de entrar junto com Dante. Depois de tudo isso, eles precisam se despedir. É um final insatisfatório — algo que o cantor e compositor (e entusiasta de Dante) reimagina no devocional épico 'Hymn to Virgil'.


A música, acompanhada por um coro, explora um final alternativo no qual Dante se recusa a abandonar Virgílio na porta do paraíso, pensando em tudo o que eles sofreram juntos. "Eu não seria visto passando por nenhuma porta/Onde você não é bem-vindo/Você olha os rostos sorrindo de algum lugar acolhedor/De algum lugar onde a luz do sol não chega," Hozier canta.


Algumas partes da música são distorcidas e alteradas, soando quase como se sua voz estivesse derretendo enquanto ele declara: "Eu queimaria o mundo para trazer algum calor para você."


"Hymn to Virgil" chega ao Unreal Unearth: Unending, a terceira versão do mais recente álbum de estúdio de Hozier. A música quase enfrentou um destino semelhante ao de Virgílio no poema que ele está descrevendo. No início deste ano, Hozier disse à Rolling Stone que nunca planejou lançá-la — e, mais especificamente, que "não achava que valia a pena."


"O sentimento de dúvida começa a se infiltrar em você depois de um tempo", ele explicou em uma parte da entrevista que não havia sido divulgada anteriormente. "Eu fiquei escrevendo Hymn to Virgil por muito, muito tempo. Foi uma das primeiras músicas que eu quis abordar nas sessões do Unreal Unearth em 2020, lá em Wicklow, tentando transformar aquela ideia em canção."


A música chegou até nós antes daquela conversa, mas foi um acidente, uma falha na comunicação que permitiu que ela se infiltrasse em uma sessão de audição do Unreal Unearth: Unaired. Essa versão do álbum incluiu as novas músicas “Nobody’s Soldier”, “July” e “That You Are” com participação de Bedouine. Ela seguiu a ideia do anterior, Unreal Unearth: Unheard, que contou com o sucesso das paradas “Too Sweet”, além de “Wildflower and Barley” com Allison Russell, “Empire Now” e “Fare Well”. No entanto, “Hymn to Virgil” foi talvez a mais impactante entre todos os lançamentos, a mais profundamente comovente. E Hozier estava satisfeito em deixá-la guardada para sempre em um cofre.


"Quando terminei Hymn to Virgil, eu senti que talvez eu tivesse carregado isso por tanto tempo e passado por um caminho tão tortuoso", ele explicou. Depois de produzir e remixar uma versão inicial da música sozinho, ele continuou trabalhando nela com Jeff Gitty, e então apresentou essas sessões a Dan Tannenbaum, mais conhecido como Bekon. "Tem uma parte de você que pensa: talvez eu esteja me esforçando demais para isso", acrescentou Hozier. "Não é bem assim, mas é uma ideia que eu guardei no bolso por tanto tempo e, eventualmente, chega um momento em que uma parte de você pensa: talvez eu tenha me perdido da ideia original."


O inferno é uma influência predominante no universo de Unreal Unearth. “That You Are”, por exemplo, interpreta a obsessão do autor por Beatrice, uma musa que ele colocou em um pedestal impossível de perfeição. Já “Francesca” é uma referência direta a Francesca de Rimini, que foi banida para o segundo círculo do inferno por se render a uma paixão demonizada como luxúria.


Com “Hymn to Virgil”, Hozier se preocupou se as referências específicas ao poema não seriam alienantes para aqueles que não o conhecem a fundo. "Acho que uma parte de mim pensou: bem, talvez esteja muito teatral", ele disse. "É um relatório de livro? É um musical sobre o Inferno de Dante? Alguém poderia se conectar com isso?" Ele também se preocupou que a produção pudesse soar "moderna demais". "É como se eu estivesse tão imerso nisso há tanto tempo que a maneira como meus ouvidos ouvem agora é muito diferente da forma como os ouvidos de outras pessoas ouvirão", acrescentou. "Isso acontece com músicas às vezes. Não é necessariamente que eu esteja convencido de que a ideia não é boa o suficiente."


Mas a raiz do conflito que Hozier reimagina na música é profundamente atual, apesar de ter sido escrito há 500 anos. É o reconhecimento de que alguém que você se importa merece mais do que aquilo que está recebendo. É se recusar a traí-lo diante disso.


"Há pontos em que Virgílio pega Dante e o carrega por certos lugares, o coloca nas costas de bestas que o levam sobre ravinas e toda essa coisa fantástica. Ele segura esse homem quando ele desmaia, treme e chora", disse Hozier. "Dante, o homem vivo neste poema, está horrorizado. E então ele chega ao final, e Virgílio diz: 'Bem, eu não posso ir mais longe.' E Dante, o escritor, sabe que no fundo Virgílio não é um homem que mereça estar no inferno."


No refrão da música, Hozier canta: "Você é a razão pela qual eu passei por isso/O único significado como eu o conhecia/Eu só posso dar o meu melhor, eu não faço isso por mim mesmo/Eu andaria pelo inferno descalço por você." De sua perspectiva, era a única maneira de trazer justiça às experiências permanentemente entrelaçadas de Dante e Virgílio.


"O único sentimento que me satisfaz é dizer: 'Não, eu não vou te deixar depois de ter visto o que eu vi e depois de você ter estado comigo em tudo isso'", disse Hozier. "Porque se você não é bem-vindo naquele espaço, eu não tenho interesse em estar nele."


 

Tradução: Portal Hozier BR

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