top of page

Entrevista para a Loads of Music em Zurique, Suíça, 2024

Matéria publicada em 30 de Junho de 2024

Loads of Music


Tivemos a chance de sentar com o Hozier logo antes do seu show no ZOA City na semana passada e também fotografar seu show depois. O cantor e compositor irlandês que está fazendo sucesso com o hit "Too Sweet" nos contou, além de outras coisas, sobre qual lugar especial ele visitou em Zurique. Continue lendo para descobrir onde ele foi.


Andrew John Hozier-Byrne é um aclamado cantor e compositor irlandês conhecido por sua voz cheia de alma e suas letras provocativas e que te fazem pensar. Com seu single de estreia "Take Me To Church", Hozier cativou audiências com sua mistura única de influências indie rock, blues e folk.


Você trouxe o melhor clima para Zurique! Estava chovendo e frio há muito tempo, então obrigada por isso.

Vindo da Irlanda, não sei como eu fiz isso. Com certeza não veio no meu bolso, então acho que foi outra pessoa que trouxe ele. Mas sim, está um dia lindo!


Eu ouvi que você estava visitando um lugar especial hoje... O túmulo de James Joyce. Como foi?

Foi muito... sabe o quê? Foi muito... LEGAL. Era algo que eu queria fazer. Mas não consegui ir ontem, porque estava fechado quando eu cheguei.


Acho que James Joyce é um escritor que mudou não só a literatura irlandesa mas também a literatura inglesa para sempre, sabe? Acho que para a arte irlandesa e, claro, para a literatura, mas também para qualquer pessoa que esteja colocando uma caneta no papel, existe o que aconteceu antes de James Joyce e o que aconteceu depois de James Joyce. Então ele é... Acho que não existe uma figura maior no cenário artístico da Irlanda. É difícil comparar ele com qualquer outra coisa ou pessoa considerando toda a sua contribuição.


Então você também se inspira nele em suas composições?

Com certeza, sim. O trabalho dele foi definitivamente uma grande parte, ele tem um livro chamado "Retrato do Artista quando Jovem", e acredito que muitas pessoas de forma notória encontraram um motivo naquele livro, como uma espécie de bilhete para si mesmas, tipo "ok, agora eu vou", sabe? O livro inteiro fala sobre um artista se libertando das limitações das expectativas dos outros, das expectativas de uma nação, das expectativas de uma comunidade para poder criar o que ele precisa criar. É lindamente escrito, então sim, eu acho ele realmente inspirador e, claro, a forma como ele trabalha com a linguagem também.


Seamus Heaney é um poeta irlandês que referencia Joyce de vez em quando em seu trabalho. Nesse poema lindo de seu livro Station Island, que inclusive também é uma certa homenagem ao Inferno de Dante, tem um momento em que ele conhece o fantasma, que ele nunca dá nome, mas ele conhece o fantasma de James Joyce. Ele conhece o espírito de James Joyce, como se estivesse numa jornada espiritual. E esse poema por si só foi muito inspirador para mim também. Foi encorajador ver que outros escritores também se inspiraram nos mesmos trechos e tal. Enfim, eu me empolguei aqui, mas sim...


Vejo que você gosta muito desse assunto.

Sim! Ele é uma figura importante.


Incrível! Fico feliz que você conseguiu ver o túmulo dele hoje. Falando sobre escrita, você vê um padrão ou uma certa evolução na sua escrita também? Especialmente nesses 10 anos desde que "Take Me To Church" saiu.

Sim, com certeza, existem mudanças. De certa forma, eu penso mais no quê a música quer alcançar. E em alguns aspectos, eu penso menos em onde a música precisa chegar.


É difícil descrever. Acho que nesse último álbum, existem definitivamente músicas que são mais pessoais para mim. Foi como abrir uma porta interna para um lugar um pouco mais pessoal, processar isso e colocar nas músicas. Isso é gratificante de uma forma única.

Então músicas mais pessoais normalmente vêm das suas experiências próprias... Mas muitas pessoas tentam tirar algo a mais delas. Você ouviu alguma interpretação estranha de suas músicas recentemente? Talvez alguma que você ache estranha, mas de certa forma também satisfatória porque prova que cada um vê a arte de uma forma?

Sim, pois é... Com certeza. E as pessoas projetam suas próprias experiências no meu trabalho também. E isso faz parte da arte. Então as vezes é legal ver que alguém conseguiu ver um ângulo diferente em algo que você nunca tinha visto antes, isso pode ser incrível. As vezes eles fogem totalmente do significado ou do meu objetivo com a música. E encontram seu próprio significado, mas com uma interpretação e uma intenção completamente diferente da que a música tinha inicialmente. Então isso acontece o tempo todo. Assim como em "Take Me To Church", que eu recebi convites de pastores para cantar em capelas e coisas do tipo.


Haha, não era o que você imaginava, eu acho, mas falando de “Take Me To Church”: ela foi um hit enorme 10 anos atrás. E agora, “Too Sweet”, outro hit. Existem outras músicas nos seus álbuns que você pensa "Ah, cara, queria que essa música tivesse feito mais sucesso"...?

Pois é, eu honestamente nunca escrevi as músicas pensando tipo "Quero que essa música seja um hit, que tenha muita exposição." Acho que isso, para mim, acaba colocando na escrita um componente que não é benéfico para cumprir qualquer que seja a intenção e a identidade da música e do trabalho. Mas existem decisões que você toma na produção que talvez as tornem mais fáceis de ouvir.


Tem uma música que tenho muito orgulho e que é provavelmente a minha música menos ouvida, ela se chama “Swan Upon Leda”, e eu lancei ela cerca de uns dois anos atrás. E acho que ela é uma das minhas músicas favoritas entre as que eu escrevi. Uma delas. Mas claro, ela também é uma música difícil de compreender. Então, por isso, ela não é a mais popular.


E isso é parte do trabalho.


Você fica surpreso quando uma música específica vai bem, quando você pensa tipo "Ah, é uma música boa, tenho orgulho dela", mas aí ela explode e você nunca imaginava isso?

Sim, pode acontecer... Eu fico surpreso sim. “Too Sweet” é uma música que eu não ia lançar, ela não estava no álbum. Não que eu não quisesse lançá-la, mas eu não achava que ela tinha lugar no álbum. Em uma briga entre a música chamada “Eat Your Young” e “Too Sweet”, as duas haviam o tema da gula. O álbum tinha esses temas (nove círculos do inferno e tal). Então eu pensei, "ok, Too Sweet é legal". É uma música divertida, mas não vai mudar a vida de ninguém, sabe?


Então fico feliz que a gente tenha lançado ela. Foi uma decisão pensando que as pessoas poderiam gostar, mas tipo, "deixe ela fluir", ela pode decolar ou pode afundar, mas é hora de colocá-la para fora do ninho, sabe? Então fiquei surpreso sim.


Ok. Então, ela meio que explodiu no TikTok primeiro, né? Isso é algo que você pensa quando cria as músicas – tipo, sabendo que existem plataformas hoje em dia que não são necessariamente feitas para músicas mas têm o poder de explodi-las e acabar mudando a sua vida?

Sim, elas com certeza têm esse poder. E o TikTok tem, de certa forma, democratizado a roleta desse jogo. Do que vai conectar e o que não vai, sabe? As músicas acabam subindo nos charts e no Spotify, etc.


Pessoas que não são representadas, não possuem uma gravadora, etc. Estamos vendo um pouco mais disso. Mas sempre há um público ou um público em potencial que entra na sua cabeça quando você está criando o trabalho. E uma das tarefas mais difíceis é tentar manter esse ruído longe de você enquanto está criando.


Porque é como quando lidamos com pessoas, se você viver a sua vida tentando antecipar o que alguém espera de você, você vai sair muito infeliz de cada interação, querendo agradar a todos, sempre preocupado se fez um bom trabalho, e isso não faz sentido.


Mas se você pudesse escolher que tipo de legado você quer deixar com a sua música, o que você quer que sua música seja ou que ela signifique para as outras pessoas? Como você quer ser lembrado no futuro?

Não sei. Acho que está além de como eu quero ser lembrado. Existem dias que você acorda e deseja ser esquecido rapidamente. E aí tem outros dias. Eu apenas quero que as pessoas apreciem o trabalho, sabe, e que ele me represente da melhor forma possível. Eu representei meu tempo na terra da melhor forma que pude, a partir do que vi, do que senti no tempo e no lugar em que fui colocado, e foi assim que fiz o trabalho e o processo de criá-lo. Às vezes é divertido, às vezes é contemplativo, às vezes é reflexivo, às vezes é sério, sabe? Mas, independente disso, eram apenas pequenos fragmentos de mim naquele tempo e lugar.


Como as pessoas se lembrarão disso, não cabe a mim decidir.


Muito obrigada por essa reflexão. E então, como sempre, nós pedimos para os fãs mandarem algumas perguntas antes da entrevista.


Gloria gostaria de saber como você lida com as críticas e feedbacks negativos, e se isso mudou nos últimos anos?

É, depende de qual é o feedback, se é uma crítica significativa. Eu já recebi críticas que são tão claramente de má fé que é mais fácil deixar passar, ainda que possa doer, sabe? Mas quando você vê um crítico musical profissional escrevendo uma publicação tirando sarro da sua aparência física, leva tempo, mas é mais fácil de deixar pra lá, porque é uma pessoa que não respeita a p#rra do próprio trabalho, desculpe a linguagem. É algo que incomoda, mas acho que ao longo da carreira você acaba cultivando um relacionamento com o seu próprio trabalho que não depende da opinião externa, sabe, e é muito, muito importante que você continue o trabalho, independente de um crítico achar que é bom ou não.


Esse é o desfecho mais triste que posso imaginar, acho que é muito devastador se você está criando o trabalho se perguntando se uma pessoa que você nunca conheceu, nunca vai conhecer, que não é um músico, não é um artista, não tem local de fala, se essa pessoa vai te dizer se você fez um bom trabalho e te dar um biscoito. Não! Isso é horrível, não. Então se cultive fora disso, cultive um relacionamento com o seu trabalho e com você mesmo para que isso não seja mais uma questão.


Com certeza! Eu concordo e gosto desta forma de pensar. A Nina gostaria de saber qual é seu lugar favorito da Irlanda para relaxar, e por quê?

Ah meu Deus, então, tem alguns lugares lindos, e eu moro no Condado de Wicklow, então tem um lugar não muito longe de mim, sou muito sortudo, é o chamado Glendalough. Glendalough é um vale antigo muito lindo, um lugar pequeno, e é o santuário de um cara chamado Saint Kevin, que é considerado um dos santos anciãos da Irlanda. É um vale lindo, "Glendalough" significa "o vale dos dois lagos", e é um lugar muito, muito especial. As vezes eu apenas ando pela costa, ou se eu tiver coragem, dou um mergulho no mar, e nada é capaz de renovar seu sistema inteiro como pular em um mar gelado.


Agora, para finalizar a entrevista, temos nossa parte Rápida e Direta... Vamos lá!


A primeira coisa que faço quando desço do palco é...

Provavelmente falo com a banda, tiro meus fones de ouvido e desaqueço, ou vou comer alguma coisa se estiver com fome, pois temos comidas para depois do show. Mas desaqueço fazendo exercícios para a voz.


Guinness (cerveja irlandesa) ou whisky…

Não tenho bebido há bastante tempo e a última vez que eu misturei esses dois não foi nada, nada legal, eu não fiquei bem, mas no momento eu diria Guinness porque é mais suave no corpo.


Shows em locais abertos ou fechados?

Depende… Para a nossa produção de agora eu diria fechados, mas em um dia como hoje, o show aberto é lindo.


Ótimo, e agora por último: o primeiro show que você foi...

Eu lembro de alguns shows, tipo shows em barzinhos e pubs, porque meu pai era baterista em umas bandas de blues, mas lembro que um dos primeiros shows que fui foi um show do Sting, tenho uma lembrança bem antiga e algumas memórias embaçadas desse show do Sting em Dublin, foi bem legal.


Hozier e a entrevistadora do Loads of Music após a entrevista.
Hozier e a entrevistadora do Loads of Music após a entrevista.

E então a gravadora entregou a Hozier seu prêmio de ouro por "Too Sweet".


Confira todas as fotos do show de Zurique aqui.


 

Tradução: Portal Hozier BR


Comments


bottom of page